Tecnologia na contramão da sustentabilidade

24 06 2010

Estive interessado em comprar um novo celular de uns tempos para cá. Sempre me deparo com pessoas com celulares com telas LCD, com funções de touchscreen, me faz sentir dentro de um daqueles filmes de Tom Cruise, Minority Report, quando a personagem do ator manuseava uma grande tela hologramática com suas mãos. Enfim, me sinto completamente atrasado com o meu celular, efeito sempre vicioso que o capitalismo consumista nos faz sentir. Para aumentar a necessidade de um celular novo, o meu bom e velho celular resolveu estragar nessa semana.

Minority Report

Minority Report


Mas chega de “historinhas”. Essa introdução foi para dar só mais um dos exemplos que nos cercam todos os dias, sem nem percebermos como estamos cada vez mais entregues ao consumismo desnecessário e exacerbado. Bom, eu pelo menos consegui perceber que estava caminhando para esse erro, graças a uma reflexão extremamente radical que me atingiu hoje em plena aula de biologia. E para fazer essa matéria, baseada nessa “viagem” minha, diante a fala do professor, fiz uma boa pesquisa. Aqui vão os resultados:

A tecnologia está cada vez mais avançada. Novas funções são atribuídas a objetos que nunca imaginaríamos que alcançariam tamanha complexidade. Mas com essas novas funções, vem os maiores impactos. Vamos pegar o exemplo do meu querido “celular dos sonhos” e pensar no caminho todo que ele faz até chegar a você.


A divisão do trabalho implica que um só produto é produzido em diversos setores de produção. Ou seja, o chip deste celular vem da China. É exportado pro Brasil. No caminho disso: CO², CO², CO².  A tela LCD é fabricada no Japão e exportada para o Brasil. No caminho disso? CO², CO², CO². O revestimento de plástico por baixo da camada externa do celular é produzida no norte do país… enfim, você entende o tanto que um celular roda só para chegar até as suas mãos?

Além disso, para se criar tantas funções dentro de um aparelho tão pequeno, como um celular, materias cada vez mais delicados são necessários. Materiais mais delicados, que necessitam de um maior nível de procura e de maior utilização de recursos naturais para a sua produção. E o pior, esses componentes, menores e mais sensíveis, perdem cada vez mais em durabilidade. Durabilidade esta que não corresponde a grande quantidade de energia necessária para construí-los e para colocá-los em funcionamento.  Os computadores avançados, por exemplo, apesar de se dizerem mais econômicos, são as máquinas campeãs de consumo entre todos os aparelhos domésticos em sua fabricação!

E quando o seu aparelho “super tecnológico” se tornar ultrapassado, ou então estragar, como o meu? Você o abandonará? Jogará no lixo? Apesar da evolução dos componentes eletrônicos, é raro ver alguma companhia eletrônica se preocupar em criar componentes biotecnológico (tecnologia que permite a utilização de material biológico como plantas e animais, para fins industriais) para que isso se torne algo biodegradável ou reciclávelmente mais eficaz. Então você descarta o seu aparelho, descarta todo o esforço natural que foi dado para a sua produção, ignora todo o impacto que a produção daquele, agora velho, aparelho causou… e compra um novo, provocando um reeinício de todo esse ciclo vicioso que o avanço tecnológico não-sustentável, em parceria com o consumismo inconsequente do capitalismo, nos faz participar.

Lixo eletrônico de celulares descartados.

Lixo eletrônico de celulares descartados.

Com a facilidade de troca, preços baixos, grande variedade de modelos e facilidade de pagamento o mercado de aparelhos celulares cresceram e muito nos últimos anos, não sendo este um fator tão satisfatório assim, exceto para os fabricantes, pois quem sofre com este crescimento descontrolado de aparelhos é o planeta. São milhões de toneladas de sucatas e de baterias descartadas em locais inadequados, como nos lixões. Baterias possuem metais pesados, consequentemente estes metais vazam e contaminam os lençóis freáticos. Quem sofre com este descontrole do mercado? Não só toda a nação, não só todo o mundo, mas o nosso meio ambientel em especial.

Depois disso tudo, eu penso que não compensa ter um novo celular. Por acaso, coloquei o antigo para carregar e, milagrosamente (ou não), ele voltou a funcionar.

Reflita mais sobre os seus atos. Tudo o que você faz tem impacto no meio ambiente. Tente ser racional.


Ações

Information

7 responses

25 06 2010
Gabi

Gente, to babando um ovão pra vcs com o blog! Tá perfeito! Se quiserem ajuda com alguma coisa, só pedir!

beijos

25 06 2010
patrulhambientalestudantil

Gabi, valeu mesmo! Então, ajuda sempre é bom, né? hahaha
A gente bolou um projeto junto ao “Fé e política”, vai ser semana que vem, se você quiser participar lá! Depois te falo melhor como que vai ser e tal. Bj aí Gabi!

3 07 2010
Filipe 2143

O capitalismo é necessariamente anti-ecológico. A ecologia vai na direção oposta à da expansão do capital e à da redução de custos. Por isso o desenvolvimento sustentável é um mito: não é posssível haver sustentabilidade dentro da lógica de produção desse sistema.
E o pior, acrescentando ao texto, é que além do viés anti-ecológico da atual produção globalizada, há o viés social, que é revoltante. Os componentes do tal celular são fabricados no terceiro mundo por mão-de-obra superexplorada!
Se defender o capitalismo já era difícil no florescer de consciência para os Direitos Humanos (pós Segunda Guerra Mundial) tornou-se ainda mais difícil defendê-lo no pós Guerra Fria, em que floresce nas pessoas a consciência ambiental.

Gostei muito do texto, aliás. Abriu meus horizontes para o problema ecológico desse tipo de produção. Já sou crítico ácido das implicações sociais que ele traz, e agora relembro o peso da questão ambiental.

Também recomendo que assistam o vídeo, “A História das Coisas” (“The Story of Stuff”) no youtube. Foi produzido por uma ambientalista americana, que, talvez por sua formação nos EUA, não domine o vocabulário de esquerda (que é visto com muito preconceito na sua terra natal) mas mesmo falando com outras palavras, conseguiu fazer um vídeo incrível para a esquerda mundial.

Forte abraço a todos, e parabéns pelo projeto e pelo blog.
Já conquistaram um leitor assíduo.

Filipe

4 07 2010
patrulheirorevolucionario

É isso que a gente queria deixar pro pessoal Filipe

Por exemplo, o celular que já virou utensílio necessário para grande parte dos brasileiros (felizmente eu ainda resisto em possuir um), pense em quantos celulares que estavam funcionais, foram descartados simplesmente por estarem ultrapassados.

Agora pense em quantas pessoas fazem isso automaticamente, o dono do blog quase chegou a fazer isso. O sistema te atinge de tal forma que mesmo sendo um ambientalista, você age de forma contrária a sua ideologia, mesmo sendo um comunista as vezes você esquece daqueles que precisam ser ajudados.

A nossa luta não consiste em transformar ninguém, mas queremos que todos sigam aquilo que acreditam sem artimanhas do capitalismo. Essa é uma das armadilhas para os ecologistas, mas existem várias para todo o tipo de ideologia contra o sistema.

Felicidades e boa sorte contra as armadilhas do dia-a-dia.

Guilherme

8 07 2010
Leonardo

Acho muito importante a consciência que as pessoas devem ter quando compram tudo, não só um celular. Mas da mesma forma que o ato de poupar ajuda o meio ambiente, o ciclo do material também ajuda, bem mais que poupar. O material tem que cair na reciclagem, e não cair em desuso, mesmo que fosse corretamente produzido, ambientalmente falando.
;D

8 07 2010
patrulhambientalestudantil

Sim, ninguém nega que a reciclagem é a melhor saída, o problema é a sua eficiência precária. Até hoje não existe uma reciclagem decente que pudesse viabilizar esse ciclo material. Pelo menos não em países como o Brasil.
O desuso, como a gente disse, é a pior saída. Ou recicle, ou continue fazendo uso do produto. A questão que queríamos mostrar era que a tecnologia avança no caminho do capitalismo e não do desenvolvimento sustentável. As indústrias abrem mão de investir em novas tecnologias ecoeficientes para investir em novos acessórios ou aprimoramentos superficiais dos produtos, principalmente, eletrônicos. Tecnologia na contramão, reciclagem ineficiente e sustentabilidade debilitada. É o que vemos cada vez mais.

Obrigado pela visita Leo,
Thiago

3 01 2011
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